Apostila de LIBRAS

18/05/2011 18:21
LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais)

 O que é LIBRAS? 

A Federação Nacional de Educação e Integração de surdos – FENEIS define a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS como a língua materna dos surdos brasileiros e, como tal, poderá ser aprendida por qualquer pessoa interessada pela comunicação com esta comunidade. Como língua, está composta de todos os componentes pertinentes às línguas orais, como gramática, semântica, pragmática, sintaxe e outros elementos preenchendo, assim, os requisitos científicos para ser considerado instrumento lingüístico de poder e força. Possui todos os elementos classificatórios identificáveis numa língua e demanda prática para seu aprendizado, como qualquer outra língua. É uma língua viva e autônoma, reconhecida pela lingüística.

Da mesma forma que as línguas orais-auditivas não são iguais, variando de lugar para lugar, de comunidade para comunidade a língua de sinais também varia. Dito de outra forma, existe a língua de sinais americana, inglesa, francesa e várias outras línguas de sinais em vários países bem como a brasileira.


SINAL-DE-NOME

 

Para todas as situações há formas de expressões diferenciadas mais formais e informais. Por exemplo, o cumprimento e saudações de duas pessoas que são amigas são diferentes do de pessoas que são apenas conhecidas e diferente ainda de pessoas que estão sendo apresentadas pela primeira vez.

Geralmente, aqui no Brasil, quando as pessoas são apresentadas umas às outras, elas dizem seus primeiros nomes após os cumprimentos (aperto de mão, contexto formal, ou beijo no rosto, contexto informal). No mundo dos Surdos, a pessoa além de dizer o nome em datilologia, ela primeiro se apresenta pelo seu sinal, que lhe foi dado pela comunidade a qual faz parte, ou um sinal crio pela própria pessoa.

O sinal pessoal é o nome próprio, o nome de batismo de uma pessoal que é membro de uma comunidade surda. Este sinal geralmente pode:

  1. Representa ironicamente uma característica da pessoa, por exemplo:

Bigode-longo – Cabelo encaracolado – Pinta na testa – Olhos puxados.


 

  1. Representa a profissão de uma pessoa e uma característica. Por exemplo:

Professor – Magro


 

  1. Representar um número, que a pessoa passou a ter na característica de sua turma da escola, ou a primeira letra do nome da pessoa. Por exemplo:

Tânia – Lívine – Sandro


 

O sinal pode ser, portanto, uma representação visual de uma pessoa ou um atributo.

 

CARACTERÍSTICAS BÁSICAS DA FONOLOGIA DE LIBRAS

 

A estrutura da Língua Brasileira de Sinais é constituída e parâmetros primários e secundários que se combinam de forma seqüencial ou simultânea. Os parâmetros primários são:

  1. Configuração das mãos: As mãos tomam as diversas formas na realização de sinais. São 46 configurações de mãos na Língua Brasileira de Sinais.

  2. Ponto de articulação: É o espaço em frente ao corpo ou uma região do próprio corpo, onde os sinais são articulados. Esses sinais articulados no espaço são de dois tipos, os que articulam no espaço neutro diante do corpo e os que se aproximam de uma determinada região do corpo, como a cabeça, a cintura e os ombros.

  3. Movimento: Um parâmetro complexo que pode envolver uma vasta rede de formas e direções, desde os movimentos internos das mãos, os movimentos do pulso, os movimentos direcionais no espaço até conjuntos no mesmo sinal. Podem ser linhas retas, curvas, sinuosas ou circulares em vaias direções e posições.


 

Quanto aos parâmetros secundários tem-se:


 

  1. Disposição das mãos: As articulações dos sinais podem ser feitas pela mão dominante ou pela duas mãos. As duas mão podem se movimentar para formar o sinal, ou então, apena a mão dominante se movimenta e a outra funciona como ponto de articulação.

  2. Orientação da palma das mãos: É a direção da palma da mão durante o sinal: voltada para cima, para baixo, para o corpo, para frente, para a esquerda ou direita.

  3. Região de contato: Refere-se a parte da mão que entra em contato com o corpo. Esse contato pode dar-se de maneiras diferentes através de um toque, de um risco, de um deslizamento.

  4. Expressões faciais e corporais: Muitos sinais além dos parâmetro mencionados acima, tem como elemento diferenciador também a expressão facial e corporal, traduzindo sentimentos e dando mais sentido ao enunciado e em muitos casos determina o significado do sinal Expressam a diferença entre sentenças afirmativas, interrogativas, exclamativas e negativas.

SISTEMATIZAÇÃO

 

Para transcrever a LIBRAS utilizaremos um sistema de transcrição, que também é usado por pesquisadores, baseado numa forma de Glosa com palavras da língua portuguesa para representar aproximadamente enunciado da LIBRAS.

  1. Os sinais em LIBRAS serão representados por uma glosa(sistema de anotação) da Língua Portuguesa em letras maiúsculas.

Por exemplo: TRABALHAR, QUERER, NÃO-TER

  1. A datilologia (alfabeto manual) que é usada para expressar nome de pessoas, de localidades e outras palavras que não possuem um sinal, está representada pela palavra separada, letra por letra, por hífen.

Por exemplo: HOTEL I-T-A-G-U-A-Ç-U
 

  1. Na LIBRAS não desinencias para gênero (masculino e feminino). O sinal, representado por palavra da língua portuguesa que possui marcas de gênero, está terminado com o símbolo@ para reforçar a idéia de ausência e não haver confusão.

Por exemplo: El@ (ela ou ele) Amig@s (amigos ou amigas)

  1. Por a palavra LIBRAS ser uma sigla (Língua Brasileira de Sinais) ela sempre será escrita com letras maisúculas.


NUMERAIS
 

As línguas podem ter formas diferentes para apresentar os numerais quando utilizados como cardinais, ordinais, quantidade, medida, idade, dias da semana ou mês, horas e valores monetários. Isso também acontece na LIBRAS.

  1. Números Cardinais:

Usado como código representativo é sinalizado da para: Números de telefone, número da caixa postal, número da casa, número da conta no banco... etc.

  1. Números Cardinais:

Usado para quantidades. Também são sinalizados sem adição de movimento, porém há diferenças na configuração de mão e no posicionamento dos números de 1 a 4.

Exemplo: Quantidade de canetas na mesa, quantidade de pessoas presentes, quantidade de ônibus....etc.

  1. Números Ordinais:

São sinalizados com movimento trêmulo.

  1. Valores Monetários:

São sinalizados com movimentos rotacionais do 1 ao 9, seguindo a configuração de mão dos números cardinais. Do número 10 em diante acrescente o sinal da moeda (REAL).


CUMPRIMENTO, AGRADECIMENTO, DESCULPAS

 

Em todas as Línguas há o ritual da saudação. Dependendo do contexto, esse cumprimento será mais formal ou informal e geralmente é complementado por gestos. A LIBRAS tem também sinais específicos para cada uma dessas situações. Pode-se utilizar os seguintes sinais: BOM-DIA, BOA-TARDE, BOA-NOITE, OI, TUDO-BEM, TUDO-BOM, ADEUS, TCHAU, MAIS-OU-MENOS, MAL, acompanhados os não de gestos para cumprimento.

 

Diálogo em LIBRAS:

O Encontro”

 

  1. Bom dia! Você surdo?

  2. Sim, Eu surdo, Também você surdo?

  1. Não! Eu ouvinte. Intérprete Língua de Sinais

  2. Que bom! Seu nome?

  1. Meu nome_____________. Seu nome?

  2. Meu nome_____________. Seu sinal?

  1. Eu sinal___. Seu sinal?

  2. Eu sinal___. Vamos fora, Nós -2 conversar.

  1. Desculpar, eu precisar ir aula depois eu voltar, você esperar em baixo. Ok!

  2. Ok! Eu esperar.

PRONOMES

Pronomes pessoais:

A LIBRAS possui um sistema pronominal para representar as pessoas do discurso:

  1. Primeira pessoa (singular, dual, trial, quatrial e plural):

Primeira pessoal do singular: EU

Apontar para o peito do enunciador (a pessoa que fala)

 

Primeira pessoal do plural:

NÓS-2, NÓS-3, NÓS-4, NÓS-TOD@, NÓS-GRUPO

  1. Segunda pessoa (singular, dual, trial, quatrial e plural.
     

Segunda pessoa do singular: VOCÊ

Apontar para o interlocutor (a pessoa com que se fala)

 

Segunda pessoa do plural:

VOCÊS-2, VOCÊS-3, VOCÊS-4, VOCÊS-TOD@S, VOCÊS-GRUPO

  1. Terceira pessoa (singular, dual, Trial, quatrial e prlural)

Terceira pessoa do singular: EL@

Apontar para uma pessoa que não está na conversa ou para um lugar convencional.

 

Terceira pessoa do plural:

EL@S-2, EL@S-3, EL@S-4, EL@S –TODOS, EL@S-GRUPO.


 Pronomes demonstrativos:

 

Os pronomes demonstrativos e os advérbios de lugar, relacionados às 2ª e 3ª pessoas, tem o mesmo sinal, somente o contexto os diferencia pelo sentido da frase acompanhada de expressão facial.

Os pronomes demonstrativos e os advérbios de lugar relacionados a 1ª pessoa, EST@/AQUI são representados por um apontar para o lugar perto e em frente do emissor apontando para a pessoa/coisa mencionada.

ESS@/AÍ é um apontar para o lugar perto e me frente do receptor, acrescido de um olhar direcionado não para o receptor, mas para o ponto sinalizado com relação à coisa/pessoa que está perto da segunda pessoa do discurso.

AQUEL@/L@ é um apontar para um lugar mais distante, o lugar da terceira pessoa, mas diferentemente do pronome pessoal, ao apontar para este ponto há um olhar direcionado para a coisa/pessoa ou lugar:


 

PRONOMES PESSOAIS

PRONOMES DEMONSTRATIVOS

EU (OLHANDO PARA O RECEPTOR)

EST@/AQUI (OLHANDO P/ A COISA, PERTO DA 1ª PESSOA)

VOCÊ (OLHANDO P/ O RECEPTOR)

ESS@/AÍ (OLHANDO P/ A COISA, PERTO DA ª PESSOA)

EL@ (OLHANDO P/ O RECEPTOR)

AQUEL@/LÁ (OLHANDO P/ A COISA DISTANTE APONTADO)

 

Quando se quer falar sobre uma terceira pessoa que está presente, mas deseja-se uma certa reserva, por educação, não se aponta para esta pessoa diretamente. Nesta situação, o emissor faz um sinal com os olhos e um leve movimento de cabeça pra a direção da pessoa que está sendo mencionada, ou aponta para a palma da mão encostando o dedo indicador na mão esquerda na mão direita um pouco à frente do peito do emissor, estando o dorso desta mão direita voltada para a direção onde se encontra a pessoa referida.


Pronomes possessivos:

 

Os pronomes possessivos, como os pessoais e demonstrativos, também não possuem marca para gênero e estão relacionados às pessoas do discurso e não à coisa possuída, como acontece em português:
 

ME2@ - SE@ - DEL@

Para a 1ª pessoa: ME@, pode haver duas configurações de mão: uma é aberta com os dedos juntos, que bate levemente no peito do emissor; a outra é a configuração da mão P com o dedo médio batendo no peito – MEU PRÓPRIO. Para as segunda e terceiras pessoas, a mão tem esta segunda configuração em P, mas o movimento é em direção à pessoa com quem se fala(segunda pessoa) ou está sendo mencionada (terceira pessoa).

Não há sinal específico para os pronomes possessivos no dual, Trial, quatrial, e plural(grupo), nestas situações são usados os pronomes pessoais correspondentes.

Exemplo:

NÓS FILHO@ “nosso(a) filho(a)

 

Perguntas e respostas:

  1. Apostila Língua de Sinais, onde?

R- Aquela mulher sentar, mesa em cima.

  1. Ah! Caneta, onde?

R- Olhar homem em pé, caneta bolso.

  1. Ah! Aqui frio muito.

R- Ali frio ar-condicionado.

  1. Ah! Banheiro, onde?

R- Lá, direto esquerd@.

  1. Ah! Sala reunião, onde?

R- Em cima segund@ andar.


 HORAS 

Em LIBRAS, as horas são sinalizadas de formas diferentes dependendo do que se quer expressar.

Para sinalizar as horas do relógio é importante saber que:

  • Não sinaliza as horas com dois algarismos a partir das 13h até às 24h. Acrescentasse o substantivo manhã, tarde, noite e madrugada quando necessário;

  • Os números de 1 a 4 são sinalizados como cardinais de quantidade.;

  • As horas são sinalizadas como quantidade enquanto os minutos são sinalizados como cardinais como código representativo;

  • Para a fração de 30 minutos, a configuração varia e acordo com a região da comunidade surda.


 

Para sinalizar as horas com sentido de duração é importante saber que:

  • A partir do número 5 são usada duas configurações (horas-quantidade + cardinal como código representativo)

  • A duração das horas tem incorporação dos numerais quando se trata de 1 a 4h.


AFIRMAÇÃO/NEGAÇÃO


 

AFIRMATIVA

NEGATIVA

Você aceitar namorar eu?

Você aceitar-não namorar eu?

Ontem você receber carta já?

Ontem você receber-não carta?

Você querer curso LS por que?

Você querer-não curso LS por que?

El@ ter caneta

El@ ter-não caneta

Você precisar ir aula?

Você precisar-não ir aula?

Aqui, fumar poder?

Aqui, fumar poder-não?

El@ gostar eu?

El@ gostar-não eu?

Aquel@ professor@, eu conhecer.

Aquel@ professor@ eu conhecer-não?


 GRAMÁTICA


 

Há três regras básicas que fazem o funcionamento da LIBRAS.

 

1ª REGRA- Nas frases em Português, a ordem das frases (generalizando) é: Sujeito - Verbo – Objeto. Na LIBRAS a oração terá a seguinte ordem: Objeto – Sujeito – Ação.

Exemplo:

P- O cachorro comeu a ovelha.

L- Ovelha cachorro atacar.

 

2ª REGRA- Na LIBRAS não conjugamos verbo. Portanto o que indicará futuro, passado ou presente serão os respectivos sinais de futuro, passado ou pesente sempre no início da frase.

Exemplo:

P- Eu estava muito animado.

L- Passado eu animado.


 

3ª REGRA- As palavras que indicam perguntas como: o que?, qual?, onde?, como?, porque? e outras que geralmente ficam no começo da frase na Língua Portuguesa, na LIBRAS essas expressões sempre ficam no fim da frase.

Exemplo:

P- Onde está minha canta?

L- Caneta minha onde?